fevereiro 02, 2010

Conto Rebelião 100: Trilha Ancestral


Mesmo à noite, os majestosos afrescos da Igreja de São Nicolau brilhavam, refletindo a luz mortiça que iluminava o interior. Uma pequena e quase despercebida janela lateral deixava passar um fino raio de luar que incidia diretamente sobre a silhueta encapuzada do homem esquálido que estava parado junto ao altar. Dois sacristãos passavam apressados, carregando vasilhames com apetrechos litúrgicos, enquanto uma faxineira de origem albanesa varria os corredores. O homem esguio apoiava-se em uma robusta bengala prateada, e seus olhos sempre fechados sugeriam que se tratava de um cego. Ele bateu duas vezes com o objeto no chão, deixando um leve estampido metálico ecoando pelos corredores da nave central. Sentou-se no banco mais próximo, e sem precisar se virar, disse com uma voz fina e estridente:





ECOS DE PRAGAV: TRILHA ANCESTRAL foi escrito por Simões Lopes, inspirado no Netbook A CIDADE DE PRAGA, de Marcel Herrero e Flauberth Carvalho.

dezembro 04, 2009

Conto Rebelião 99: Alpha Scorpii


Manfred von Burgund, o famoso magnata alemão, proprietário da Financeira Alpha Scorpii, está desaparecido há cerca de um mês, e nenhuma das polícias européias envolvidas no caso tem a menor pista sobre seu paradeiro. Wanda Kerlik, a top model polonesa que fora a última de extensa lista de namoradas do empresário, estava numa profunda crise de depressão, e dizia que achava que seu amado estava morto. Karl Wolfsgruber, o vice-presidente da Alpha Scorpii, quando perguntado sobre o futuro da financeira, garantiu que os negócios continuavam com o mesmo sucesso de sempre, e que não descansaria enquanto não descobrisse o que acontecera com o patrão. Ao contrário de Wanda, fazia questão de negar qualquer suspeita de assassinato.




ECOS DE PRAGA IV: ALPHA SCORPII foi escrito por Simões Lopes, inspirado no Netbook A CIDADE DE PRAGA, de Marcel Herrero e Flauberth Carvalho.

novembro 16, 2009

Conto Rebelião 98: Cinza e Azul


Quando entrou na LAN House Khaos 99, Václava chegou a pensar que o sistema de calefação estava desligado, tamanho o frio que ali fazia. A luz mortiça envolvia tudo em uma penumbra ligeiramente azulada. Num salão que parecia vazio, dois adolescentes obesos com aspecto nerd pareciam mergulhados em um transe hipnótico. Se não fosse o nervoso piscar de olhos, ela podia jurar que os garotos estavam congelados. A silhueta esguia de Vladmir Palovek, o único funcionário da loja, podia ser vista por detrás do grosso vidro fumê que escondia o mezzanino. A altura, a magreza e a postura exageradamente curvada fizeram Václava lembrar-se de um louva-a-deus. Contendo o riso, dirigiu seus olhos para o lado oposto da sala, onde identificou a figura inconfundível de Kamila Fric, a atual proprietária da Khaos 99. Enormes alargadores perfuravam seus lóbulos, um azul e outro verde, combinando com a cor de suas longas unhas e de das mechas de cabelos tingidas e empasteladas de gel brilhoso. Um decote generoso expunha o volume generoso dos seios tatuados com linhas negras imitando arame farpado. Os ombros nus mostravam tatuagens da “Noiva de Frankenstein” em poses sensuais, enquanto as costas da mão esquerda ostentavam um enorme ENDZEIT — fim dos tempos, em alemão — gravado em caligrafia gótica. Na outra mão, havia outra palavra tatuada, mas Václava não se interessou em ler.


ECOS DE PRAGA III: CINZA E AZUL foi escrito por Simões Lopes, inspirado no Netbook A CIDADE DE PRAGA, de Marcel Herrero e Flauberth Carvalho.

novembro 11, 2009

Conto Rebelião 97: A Gema do Capricórnio


Poucos são os frequentadores do Mosteiro de Strahov que conhecem aquele túnel estreito e comprido que se parece avançar rumo às profundezas da Terra. Dois vultos caminhavam devagar, os pés calcando no piso de rocha escura e coberta de limo. Um monge magro, de cabelos ralos e barba alourada, conduzia a outra pessoa através da densa escuridão, carregando um bastão luminoso que emana uma luz fria verde-azulada. O vulto esguio que o acompanhava, coberto por um manto branco com capuz, não trazia boas notícias para os moradores daquele mosteiro.


ECOS DE PRAGA II: A GEMA DO CAPRICÓRNIO foi escrito por Simões Lopes, inspirado no Netbook A CIDADE DE PRAGA, de Marcel Herrero e Flauberth Carvalho.

novembro 03, 2009

Conto Rebelião 96: Vitória ou Morte


Sua presença no restaurante provocava um indisfarçável desconforto nos clientes. A enorme figura, de quase dois metros de altura, com os ombros larguíssimos cobertos por um casaco negro, e um chapéu da mesma cor realçava ainda mais seu porte imenso, passou silenciosamente por entre mesas e cadeiras, alheio aos olhares fugazes e comentários abafados.

Um homem jovem, de cabelos castanhos, comia avidamente um prato de carne de porco com molho de aspargos e purê de batatas. Os talheres cortavam grandes nacos de pernil que eram enfiados goela abaixo com uma pressa inexplicável. Ele percebeu que o rabino vinha em sua direção, e respondeu com uma saudação curta:

— Salve, rabino.


ECOS DE PRAGA I: VITÓRIA OU MORTE foi escrito por Simões Lopes, inspirado no Netbook A CIDADE DE PRAGA, de Marcel Herrero e Flauberth Carvalho.

setembro 25, 2009

Conto Rebelião 95: Dando Milho aos Pombos

Os pombos aglomeravam-se ao redor do sujeito vestido como um frade franciscano, rodopiando como se presos a uma hélice invisível. Os grãos de milho jogados no chão de cimento despareciam muitas vezes antes de tocar no solo. O som dos arrulhos era tão alto que sufocava até o barulho do alto-falante da pracinha que anunciava vendas na loja de móveis da cidadezinha.


AMIGOS DE LONGA DATA foi escrito por Simões Lopes


setembro 22, 2009

Conto Rebelião 94: Amigos de Longa Data


A Catedral de Nossa Senhora Madre de Deus estava vazia, como de costume naquela hora do dia. Umas poucas pessoas rezavam em silêncio, e um trio de senhoras acendia velas do lado de fora. Um homem impecavelmente barbeado e de têmporas raspadas, com uma enorme cicatriz na metade esquerda do rosto escuro, olhava fixamente para a imagem do Cristo crucificado no altar, enquanto esperava por alguém. Já fazia mais de uma hora que tinha chegado, e seu amigo de longa data ainda não aparecera.

— Chico!!! — gritou uma voz possante, vinda de fora da Igreja.


AMIGOS DE LONGA DATA foi escrito por Simões Lopes

setembro 17, 2009

Conto Rebelião 93: Venerável Trilha da Solidão


Satyabhama é muito mais velha do que aparenta. Quando ela nasceu, morena e coberta de cabelos negros bem espetados, recebeu seu nome em homenagem à princesa indiana, filha do Rei-Urso e uma das esposas de Krishna. Órfã de pais, foi criada numa comunidade espiritualista da Califórnia liderada por um grande mestre indiano, que a considerava como sua melhor aluna.
Satyabhama descobriu antes da maioridade que não era uma pessoa comum, mas a filha de um anjo em forma feminina com um amante humano.


VENERÁVEL TRILHA DA SOLIDÃO foi escrito por Simões Lopes

setembro 16, 2009

Rebelião: Guia do Despertar

Já está disponível no pioneiríssimo site Iniciativa RAQ o GUIA DO DESPERTAR. Nele vocês acharão um guia rápido para "passear" pelos confins do universo de Rebelião: Ascensão e Queda.

setembro 08, 2009

Antologia "Beco do Crime"!

Na Bienal do Livro, dia 19/09 próximo, às 17hs, será lançado o livro "Beco do Crime" - uma coletânea de contos policiais da mais alta qualidade, feitos por autores nacionais e inéditos.
Selecionados pelo antigo site "Beco do Crime" (agora "Esquina do Escritor"), o livro reúne aqueles contos de arrepiar a espinha onde o principal personagem sempre é o crime.
Por que anunciamos aqui? Primeiro porque a coletânea é organizada por André Esteves - para quem não sabe ele foi
o primeiro fã declarado de RAQ, o primeiro a nos mostrar uma edição encadernada da versão online e o primeiro a mestrar o jogo sem ser um dos criadores! Só isso já serve para incentivar o cara, não acham?
Mas existe outra coisa. Um dos contos pertence a este pobre escriba (que passou noites acampado na porta da casa do André, cantando tango e só parando quando ele prometeu colocar seu conto no livro). Estamos estendendo nossas garr... digo, tentácu... digo, influência pelo mundo!
Tanto André como Danilo (que estranho falar de mim na terceira pessoa) estarão presentes e dando autógrafos na noite indicada acima (só para confirmar: 19/09, às 17hs - estande "Beco do Crime").

Agora fiquem com a capa e o release do livro.


"Ele desperta. Com o rápido vibrar de uma faca, com o pragmatismo de um revólver ou mesmo com o lento e prazeroso repuxar de uma corda, ele dá vazão aos seus instintos e busca concretizar seus impuros - ou puros, algumas vezes - desígnios. Sabe que deve ser mais inteligente que o mais inteligente investigador, para manter encoberto seu ato.
O sangue o desperta. Em mundos sombrios que põe a prova a razão humana, ele segue a trilha do mais perigoso e cruel predador existente. Muitas vezes, a linha divisória entre caçador e presa torna-se tênue. Ele tem ciência, entretanto, que deve ser mais inteligente que o mais inteligente dos assassinos para fazê-los pagar por seus crimes e evitar novas mortes – talvez, a sua própria.
Em um palco, eles lutam. Em tramas repletas de reviravoltas, se confundem. Às vezes, se unem. Podem, até, se perdoar. Mas, não importa em qual situação, se completam.
Você está desafiado a acompanhar estes duelos, a desvendar estas tramas, a perder-se nos rios sinuosos e ilusórios da literatura policial, onde nada é o que parece – ou não.
Puxe uma cadeira, prepare-se para o inusitado e acomode-se. O show já vai começar.
No Beco do Crime."

setembro 02, 2009

Conto Rebelião 92: Invocação (Parte 1 de 2)

Já há muitos dias a tempestade se tornava cada vez mais causticante; o ar estava pesado, saturado de fluidos pestilenciais que dificultava a respiração. O zimbório celeste era de um negrume horripilante. A noite castigava, raios voejavam em todas as direções se chocando com os edifícios. Qual não foi o espanto quando o relógio já marcava próximo do meio-dia e a luz do sol não dava mostras de sua presença beatífica.

LEIA O CONTO NA ÍNTEGRA

INVOCAÇÃO foi escrito por Marcel Herrero

agosto 30, 2009

Conto Rebelião 91: Negro Gato


O temporal é intenso e já cai por mais quatro horas. Enrique Royo caminha com dificuldade pelo chão lamacento e pegajoso do pântano. Nuvens de mosquitos enxameiam sob a proteção de um enorme tronco disforme, cuja proteção garante uma área de terra seca suficiente para abrigar um pequeno exército. Protegido da chuva inclemente, o cadáver de um soldo fita o vazio com suas órbitas vazadas. Um enorme gato de pêlos inteiramente negros, com exceção de algumas marcas vermelhas específicas espalhadas pelo corpo. Para um bom conhecedor de símbolos místicos, cada mancha cor de sangue seria identificada como uma crux ansata invertida.
Cazador, o desencarnado está próximo?


Negro Gato foi escrito por Simões Lopes
BuscaPé, líder em comparação de preços na América Latina
BuscaPé, líder em comparação de preços na América Latina