fevereiro 08, 2008

Conto Rebelião 75: Caridade


"Quando Ismália enlouqueceu

Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu.

Viu outra lua no mar." (Alphonsus de Guimaraens)

— Eu ainda não posso acreditar que isso aconteceu com ela…

Observo o pêndulo nas mãos de Clow — um penduricalho de vidro, como um cristal, preso em um cordão de prata — movimentar-se suavemente a cada soluço contido. Seu apartamento está uma grande bagunça, mas diferente da desorganização habitual. Com ele, o caos costumava lembrar simplesmente os turbilhões dinâmicos da vida: repentinos, vertiginosos, mas sempre interessantes. Hoje, todo ele tem uma aparência lúgubre, triste (os livros de Ismália estão espalhados pelo chão, porque Clow os deixou cair ao tentar empacotá-los. Vejo Oração aos moços perto de meu pé direito). Acabamos de voltar da missa de um mês de Ismália, sua amante de barro. Clow, como todos os Acólitos, sofre de uma terrível maldição: um elo inquebrável com os mortais. Sua última companheira sofria de psicose maníaco-depressiva, e suicidou-se jogando-se ao mar durante a ausência de meu amigo, quando tivemos aquele probleminha com a R.A.M. Ele ficou arrasado. Toda a sua exuberante alegria parece ter murchado, e uma melancolia e letargia imensas parecem ter tomado seu lugar. Não gosto dessa mudança. Não gosto de sua tristeza.


CARIDADE foi escrito por Renato Simões

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