fevereiro 12, 2008

Conto Maytréia 14: Nada Pessoal


Era apenas negócio, nada pessoal.

Você tinha a velha desculpa: se não fizesse, alguém faria. Além do mais, tinha contas a pagar como todo mundo. Seu pai ensinou-lhe sempre que se não fosse esperto, seria engolido por outros mais espertos. Você se lembra de como seu pai mostrava os animais caçadores atacando suas presas e dizia: “Assim é a vida: alguém caça e alguém é caçado. Saiba de que lado está!”

Seu irmão não aceitou as idéias do pai. Afirmava que o mundo humano tinha regras diferentes, regras estas que eram criadas pelo próprio homem e que – portanto – poderiam ser mais justas. Para o tolo do seu irmão, não era necessário tanto sofrimento. Mas eram irmãos. Brigavam juntos quando algo acontecia na rua ou na escola. Faziam planos de como seriam quando crescessem.

Mas a realidade aconteceu.

Enquanto seu irmão se tornou um simples funcionário público, que não faria diferença nenhuma para o mundo (ou, pelo menos, assim achava) você tornou-se um homem de negócios. Enquanto seu irmão ganhava seu minguado salário, você fazia economias cada vez maiores. Enquanto seu irmão tinha um grupo seleto de amigos que pareciam não fazer a menor diferença, você tinha alguns dos contatos políticos e econômicos dos mais importantes. Seu irmão se tornou Agente Administrativo numa repartição pública qualquer, você era um influente homem no ramo de turismo.

O fato de participar de uma máfia para o tráfico de escravas brancas era apenas detalhe.

NADA PESSOAL foi escrito por Danilo Faria

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